quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Síncope




Fecho-me, com o dia. 
O tempo hesita num triângulo de luz. 
Não faltam os pássaros e uma aragem de ria 
na antiguidade da cidade 
(Alauario, hoje, com pouco sol), 
como orla do pensamento, que sobrevoa 
o final de um agosto frágil. 

Se, em Portalegre, a sombra cresce com a serra, 
numa evolução aérea, 
em Aveiro, a sombra cresce para o leito da ria, 
num desenvolvimento aquático, 
igualmente rústico. 
É assombrosa a velocidade da sombra, 
assim como a velocidade da ausência, 
ou como a velocidade da estupidez. 

Ao longe, 
talvez não demasiadamente longe, 
uns agitam bombas e ensinam a guerra 
a falar grosseiramente; 
outros leccionam o conflito às palavras que sacodem; 
outros, ainda e naturalmente, fazem tudo isto, 
de uma só vez. 

Eu, só quero estar só. 
Trago nos olhos as palavras que não digo, 
porque, por vezes, 
de certa ou alguma (boa) forma, 
o silêncio deixa quase tudo claro, 
e falar, ou escrever, gera um ruído excessivo. 
Mas nem sempre é assim. Eu sei, 
ou quase sempre vejo essa margem. 

Sabe-se que são coisas, 
só coisas, 
apenas coisas. 
Fecha os olhos e olha para um sítio diferente, 
bem dentro de ti. 


 [sobrevoo]



6 comentários:

  1. Que texto tão bonito! Adorei
    Visitarei mais vezes.

    Beijo

    http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/

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  2. Passei por causa do link lá no blog da amiga Ana Freire. Vi que és um poeta compositor de lindas poesias. Abraço

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  3. Venho do blogue da Ana e, pelo que já li, foi uma excelente partilha.
    Adorei as suas palavras! O mundo, por vezes, é demasiado ruidoso e agitado e sabe bem procurar o silêncio e dar ouvidos apenas ao nosso mundo interior.
    Beijinho

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  4. Dentro de nós vemos aquilo que quisermos. Muito, pouco ou nada!
    Tu vês sempre muito,felizmente para quem te lê!

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  5. Uso as tuas palavras: Um "[...] triângulo de luz [...] bem dentro de ti.»
    Bjks

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  6. E hoje... vim olhar para um sítio diferente... e por isso... vim aqui... :-) apreciar mais um dos teus sensacionais poemas!
    Mais um trabalho brilhante, como sempre!
    Beijinho
    Ana

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