quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Fracção


A noite de todos os pontos cardeais entra, silenciosa, pela janela da página. 
Traz a memória do teu olhar, que procura o meu, com o brilho e a ânsia 
do mar; com a súplica e a precipitação dos afectos secretos e dos lábios; 
como o fogo e o apetite térreo e solar de uma semente há muito esquecida. 
Chega pelo su-sudoeste das palavras uma agradável sensação de conforto 
e a terna recordação da chuva de folhas secas. Redesenha-se a perspectiva 
das árvores dormentes que ladeiam as ruas ou das que formam os parques, 
num outono que amadurece e que pinta sonhos de azul, dourado e névoa, 
que segue as letras de um ponto abstracto como o horizonte. 
Deixemos a cidade a brincar com as folhas, a ria agarrada ao leito e o poeta 
à luz do seu interior, a brincar com a cidade, as folhas, a ria e com ele próprio. 



 [massivo]



1 comentário:

  1. E enquanto o poeta brincar com as folhas... numa fracção de tempo... surgem assim... belos momentos poéticos, como este... que descobrem sentidos... em quaisquer horizontes...
    Beijinho
    Ana

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