terça-feira, 1 de novembro de 2016

Errático


O cemitério florido, levemente oxidado e cheio de formas 
de vida aparente, ainda povoa os meus pensamentos, 
como se a vida passasse pelo buraco de uma agulha. Agora, 
sou parte de parte da ria pendente numa ténue névoa, 
levemente acinzentada. Parece que a cidade se afastou, 
como um estremo da noite. Não pretendo conceber 
uma igualdade de circunstâncias absoluta, apenas o seu 
arrepio, e reparo que a humidade conferiu brilho à calçada, 
brilho que se estende aos bancos desocupados e à relva 
onde brincam cães absortos, de pessoas ausentes 
que se assemelham a sombras, apenas sombras. 
Não consigo assegurar as suas dimensões, formas 
e distâncias, e caminho lentamente, pela rua inevitável 
que me conduz à Beira-mar, onde chegar é uma questão 
de futuro próximo e de contornos mais ou menos serenos. 
Por momentos, a névoa aparenta crescer dos cães 
e dos seus donos, como uma espécie de cansaço febril 
a libertar-se da prisão dos corpos e a diluir-se no ar: 
a representação física do meu próprio cansaço e da sua 
ilusão, por vezes insinuante, em mim. Só para mim. 
Detenho-me na curva de um sorriso incompreensível, 
uma resposta simpática e solidária do meu corpo, 
apenas corpo, a tropeçar no corpo de um sonho. 


 [massivo]



2 comentários:

  1. Passando hoje, por aqui, com um bocadinho de pressa, só para te dizer, que destaquei umas palavrinhas tuas, por lá no meu canto...
    Se acaso, a tradução não estiver do teu agrado, é só dizeres-me e alterarei.
    Noutro dia, virei com mais tempo, apreciar devidamente, mais alguns dos teus posts... este inclusivé!
    Beijinhos
    Ana

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  2. que nos tirem tudo, menos a vontade de sonhar, bjs

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