quarta-feira, 25 de junho de 2014

urbe XLVII




havia um ruído ténue mas perceptível 
que tive dificuldade em localizar 
talvez porque ultimamente ando mais lento 
nuns laivos e apontamentos de campo 
ou por coisas que são factos que aparto 
a cidade também não aparenta ter pressa 
talvez por saber quando não há soluções fáceis 
eram poemas adiados e rascunhos guardados 
que murmuravam em caixotes gemebundos 
palavras que se acomodavam ao espaço 
já usado e acomodado ao mundo exterior 
e que davam liberdade ao espaço de gavetas 
recordo que nos faltou o espaço e o tempo 
que talvez sejam a mesma coisa simples 
anos depois das cinza dos poemas passados 
a limpo e de todos os outros indeterminados 
que a insegurança e a vontade de ferir expôs 
ao fogo que assim me queimou apegos 
rastos e caminhos em vários tempos verbais 
em múltiplos sentidos e amplos sentimentos 
talvez por falta de outros espaços e necessidades 
aparenta escorrer uma melancolia espessa 
tomava o ruído ténue dos poemas e o meu 
amalgamados anos depois do meu pai 
tinha o céu nublado e o silêncio indiscriminado 
dos pássaros e da correnteza da rua e da ria 
reunidos na polissemia e na ausência de pontuação 
mas é assim que também nascem os sorrisos 
e as cores e os gostos e os odores e o próprio som 
declaradamente sem pontos ou casas decimais 
onde tudo fica diferido no tacto inteligível 
já não há um ruído aproximadamente ténue 
há uma melodia compreensível e esclarecida 
talvez dimensões que não tenhamos procurado 




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