quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Para cá do medo do fim



Para cá do medo do fim

Para além do olhar intenso,
Para cá do medo do fim.
Desta forma louca de me expressar,
Venho dizer a falar do sentir imenso
Alojado tão dentro de mim
Em êxtase, com vontade de me ultrapassar.

Quero a graça do discernimento
E a segurança de não ser errante.
Quero compreender, mas sem razão,
A sensibilidade sem tormento,
A dor aprazível, constante.
Intento expandido e sem explicação.

Advertido por sinais sem censura,
Aconselhado por sons sem enfado,
Avisado pelo entendimento sem reprimenda,
Procuro o motivo esta candura.
Sigo o curso do meu humilde fado
E despreocupo-me de qualquer emenda.

Os reventos florescidos neste Outono,
Quero preservar de inverno.
Aborreço-o embora ele exista e venha.
Seja como for, não estarei ao abandono,
Não farei parte do seu inferno,
Porque eu não quero essa senha.

E se algumas vezes eu errei
E se também eu andei perdido,
Isso não vai dar prova de ser incapaz.
E se algumas vezes eu esperei
E se também eu não fui ouvido,
Isso não dá o direito de me tirarem a paz.

Peso a dor de uma despedida.
Eu vivo e sigo por uma via,
Com origem de onde eu venho
E com destino a uma subida.
Se o olhar me trai e denúncia,
É pela afecção e pelo seu empenho.

Às vezes tudo parece pouco claro.
Por vezes até parece irreal.
É a vida a dar voltas para lá
E eu a dar voltas sem amparo.
Pareço errado e a fazer tudo mal,
A correr mas a ficar cá.

Eu não desespero e penso chegar
A sentir de novo, contra o meu peito,
A força de um abraço forte.
Só ele me poderá descansar.
E depois, quando estiver já refeito,
Poderei sonhar com melhor sorte.

Para cá do medo do fim,
Para onde eu não quero ir,
Não vou estar, nem lutar contra mim.

Albergaria-A-Velha, 09 de Dezembro de 2000.

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