terça-feira, 22 de janeiro de 2008

[Florbela Espanca] Não ser



Não Ser
 
Quem me dera voltar à inocência  
Das coisas brutas, sãs, inanimadas, 
Despir o vão orgulho, a incoerência: 
- Mantos rotos de estátuas mutiladas! 

Ah!  Arrancar às carnes laceradas 
Seu mísero segredo de consciência! 
Ah!  Poder ser apenas florescência 
De astros em puras noites deslumbradas! 

Ser nostálgico choupo ao entardecer,  
De ramos graves, plácidos, absortos 
Na mágica tarefa de viver! 

Ser haste, seiva, ramaria inquieta,  
Erguer ao sol o coração dos mortos 
Na urna de oiro duma flor aberta!... 


-Florbela Espanca





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