quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Pai



Bom dia pai! Faz muito tempo que não te escrevia.
Foi difícil viver os dias seguintes à tua morte.
Mais difícil foi ver a mãe confrontada com a sua sorte,
O companheiro muito amado e a sua vida que para sempre partia…

Continuas a ser o meu único e verdadeiro ídolo. Nunca te disse.
Quase catorze anos depois, aqui estou em frente ao computador,
Desta vez para te escrever e te confessar o meu amor.
Já era homem, mas ainda apreciava os carinhos da meninice.

Tantos anos depois e ainda sinto a tua falta. A vida ficou diferente.
Deixei de escrever. Perdi, até, as centenas de folhas manuscritas,
Os guardanapos, os pedacinhos de papel, com venturas e desditas.
Não entendo porquê, mas acho que por uns tempos deixei de ser gente.


Bem sei que a vida continua. Continuou e há-de continuar, por fim.
Meu querido e bom pai, saudades sim, eu sinto.
O tempo apaziguou a dor da perda e não minto,
Sossegou a revolta, até para com o divino que cultivava em mim.

A vida é composta por uma sucessão de acidentes. O teu último, aquele,
Deixou também nos avós, teus pais que já partiram também,
O acre de sobreviver a um filho, mas que esperaram encontrar além.
E nessa certeza padeceram serenos e faleceram à espera dele.


Até sempre. Voltarei a escrever com certeza.
Fez-me bem este momento, este gesto espontâneo,
Que sem necessidade reprimia, humilde e em pobreza.

  


3 comentários:

  1. Escrito e editado originalmente no blogue "Aurorar III" (blogues do Sol), a 27 de Dezembro de 2006.

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  2. Li e estou de lágrimas nos olhos. Tenho uma dor no peito porque senti-o,tão verdadeiro, também... esse ficar-se sem vontade de nada. Não querer escrever nem nos pedacinhos de papel guardanapo, ouvir música, andar, pensar sequer viver e temos de o fazer...Tudo igual como se nada se tivesse passado. É cruel!!! Crudelíssimo por isso a revolta com o divino que percebemos se será isto que quer, para isto que aqui estamos, num sentido tão sem sentido, numa demanda que nunca se encontra ou muito raro o fim, ou o que se pretendia alcançar. Tanta dor e não sei se a conseguimos aceitar de ânimo leve... Não esta dor e nunca esta dor! Um beijo com muito carinho. Um abraço apertado e o meu sincero sentimento de admiração por um homem que vê em mim uma pessoa digna de mostrar este poema/desabafo. Tenho-te estima amigo e muita admiração. Obrigada por seres como és. Boa semana.

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  3. Eu é que te agradeço, Noctívaga. Ainda hoje sinto a perda e recordo o difícil que foi escrever este poema, completamente sentido, um absoluto desabafo.
    Obrigado!

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